quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O PROCESSO EDUCACIONAL NA FAMILIA/ESCOLA

A idéia de criança, tal como a concebemos hoje (como um ser que tem necessidades, interesses, motivos e modos de pensar específicos), não existia antes do século XVII. Até então, as crianças eram consideradas adultas em miniaturas.
A convivência com um índice de mortalidade infantil extremamente alta fazia com que a morte das crianças fosse considerada natural e que a duração da infância fosse limitada a um período muito curto, na vida dos indivíduos. Ela correspondia ao período em que, para sobreviver, a criança necessitava de cuidados físicos. Quando sobrevivia, com seis ou sete anos, após o desmamamento tardio, a criança “tornava-se a companheira natural do adulto” (ÁRIES, apud FONTANA, 1997, p. 23), com quem passava a conviver o tempo todo. Participava das atividades do adulto, compartilhando com ele o trabalho nos campos ou nos mercados, os jogos ou as festas.
A partir do século XVII, gradativamente passou-se a admitir a idéia de que a criança era diferente do adulto não apenas fisicamente. Começou-se então a considerá-la como não preparada para a vida, cabendo aos pais, além da garantia de sua sobrevivência, a responsabilidade por sua formação, entendida principalmente como espiritual e moral. Nessa época foi que se iniciou o costume de enviar crianças às escolas, as quais se ocupavam basicamente com o ensino da religião e da moral e de algumas habilidades, como a leitura e a aritmética.
Se antes a socialização da criança acontecia em meio à convivência direta com os adultos – ajudando os mais velhos ela aprendia valores, costumes e habilidades -, a partir do século XVII, ela foi afastada do convívio constante com eles e sua formação passou a ser responsabilidade da família e da escola.

A personalidade da criança, seus raciocínios e seus comportamentos, suas ações e reações são incompreensíveis fora das relações sociais que se tecem, inicialmente, entre ela e os outros membros da constelação familiar, em um universo de objetos ligados às formas de relações sociais intrafamiliares. De fato, a criança constitui seus esquemas comportamentais, cognitivos e de avaliação através das formas que assumem as relações de interdependência com as pessoas que a cercam com mais freqüência e por mais tempo, ou seja, os membros de sua família. (LAHIRE, 1997, p. 17).

A família tradicional que antigamente era composta de várias gerações e viviam sobre o mesmo teto, mudou. A família de hoje está reduzida a pais e filhos, quando não somente a um dos pais e seus filhos, onde os pais saem para trabalhar em tempo integral e na ausência de familiares sob o mesmo teto, são obrigados a deixarem seus filhos ainda pequenos, na presença de uma pessoa com as funções de babá ou na escola. Para Lopez (2002), a educação nos primeiros anos de uma criança consiste na necessidade de afeto e carinho, que os profissionais de educação, embora tenham todas as atenções exigidas, jamais poderão igualar-se aos pais. Entretanto, por mais que os pais tenham dificuldades de horário de trabalho, deverão escolher um tempo diário para estarem com seus filhos, que estarão desejosos de contar-lhes o ocorrido durante a sua ausência.
Conforme nos relata Silva (2007), a sociedade moderna vive uma crise no exercício da cidadania e isso se deve ao fato de uma má administração do tempo de homens e mulheres, com dedicação exclusiva ao trabalho. Dessa forma, não existe um acompanhamento na educação das suas crianças, e quando isso acontece, há um desequilíbrio no crescimento e desenvolvimento das mesmas, pela necessidade emocional afetiva e de segurança.
O historiador Phillipe Áries (1981, apud FONTANA, 1997, p.24) cita um texto de 1602, que fala da preocupação dos pais com a educação das crianças:

Os pais que se preocupam com a educação de suas crianças merecem mais respeito do que aqueles que se contentam em pô-las no mundo. Eles lhes dão não apenas a vida, mas uma vida boa e santa. Por esse motivo, esses pais têm razão em enviar seus filhos, desde a mais tenra idade, ao mercado da verdadeira sabedoria (o colégio), onde eles se tornarão os artífices de sua própria fortuna[...]

Portanto, cabe aos pais a responsabilidade pela educação dos seus filhos na transmissão de um ensino de princípios éticos e valores morais à construção do caráter e da personalidade dos mesmos.
“A família sempre foi a mais importante sociedade de pessoas. Ela é fundamental na formação de valores humanos. Precisamos investir na família e redescobrir sua missão e sua responsabilidade com e na educação”. (BONALUME, 2005, apud SILVA, 2007, p. 34). Sabe-se, que o berço familiar é o primeiro contato da criança com o mundo exterior e terá grande influência na construção do conhecimento e desenvolvimento desse pequeno ser. A ausência dos pais na educação dos filhos acarretará uma instabilidade cultural e emocional, uma vez que, as crianças necessitam de laços afetivos que lhes transmitam confiança para crescerem com personalidade.
Segundo Lopez (2002, p.28), “A família nunca pode renunciar a sua responsabilidade educacional, menos ainda durante os primeiros anos da vida infantil, exatamente quando se estabelecem as bases da futura personalidade da criança”. Ao abdicar a responsabilidade de educar, os pais tornam seus filhos vulneráveis ao controle de problemas e conflitos existentes à formação do seu caráter pessoal. É importante ressaltar que as atitudes e valores dos pais têm grande influência no desenvolvimento físico, de acomodação social, psicológica e emocional dos filhos.

A Importância dos Pais na Educação dos seus Filhos.

A educação de toda criança começa dentro do próprio lar/família, a quem os pais transmitem valores éticos e morais para a formação do caráter pessoal dos seus filhos. Até pouco tempo atrás, educar estava relacionado à figura materna, que passava o dia em casa transmitindo afeto e cuidando para que seus filhos estivessem asseados.
Antes do surgimento da escola, crianças e jovens eram educados na família ou na comunidade e somente as elites mandavam seus filhos para colégios internos. Somente no século XIX, nas sociedades modernas, é que a educação passou a ser sinônimo de escola, com uma organização especifica: currículo seriado, sistema de avaliação, níveis, diplomas, professores, professoras e outros profissionais especializados.
Com a globalização, muita coisa mudou e a educação das nossas crianças também. Pai e mãe que antes tinham uma participação mais efetiva na educação dos seus filhos são obrigados a trabalhar e os deixarem numa creche, com uma babá, com os avós, com um parente próximo ou até mesmo com um vizinho. Muitas dessas pessoas não estão preparadas para acompanhar a educação escolar dessas crianças que sem a participação dos mesmos, torna-se difícil para um melhor aprendizado.
Vygotsky (apud LAHIRE, 1997) afirma que o aprendizado começa muito antes da entrada da criança na sala de aula. Valoriza as formas de experiência individual e de interação social que ocorrem fora dela.
Nas escolas, as crianças chegam cada vez mais cedo, porque seus pais precisam trabalhar e não tem com quem deixar os filhos. O pouco tempo disponível dos pais faz com que os mesmos transfiram para a escola, muitas vezes, toda a responsabilidade educacional de seus filhos. Sabemos que toda educação recebida em casa pela criança, reflete na relação com os colegas e com os professores, podendo trazer dificuldades no aprendizado da mesma.
Muitos pais trabalham dia e noite na busca de poder proporcionar uma melhor qualidade de vida para sua família e, na sua maioria, passa despercebido as orientações com os valores éticos e morais, essenciais para a formação do caráter do ser humano, pelo pouco tempo disponível com seus filhos. A verdade é que, inconscientemente, transferimos as nossas responsabilidades de pais (educadores) para os avôs ou deixamos nossos filhos numa creche ou na companhia de uma babá que irá transmitir uma educação em valores que nem sempre corresponde com aquela que desejamos.
Por outro lado, existem famílias que vivem quase na miséria, elevando a gravidade da situação pela falta de conhecimento e necessidades básicas, fazendo com que essas crianças passem o dia na rua, desprovida dos seus direitos essenciais.
“Sob a denominação genérica de socialização aparecem inúmeros comportamentos com nítida influência sobre a formação pessoal”. (LOPEZ, 2002, p.23). Se uma criança passa o dia na rua, por exemplo, ao chegar à escola terá dificuldades de socialização e não apenas dos hábitos de higiene, mas também dos de disciplina, ajuste de horários, etc. O dia tem muito mais horas que as destinadas à escola e deverão ser bem aproveitadas pelas nossas crianças com descanso, brincadeiras, refeições, convívio social e na formação das mesmas.
Os pais são os responsáveis legais e morais pela educação dos seus filhos. Parece razoável esperar que pais e professores sejam parceiros, pois querem o melhor para suas crianças, o sucesso escolar. A participação dos pais na escola, acompanhado de regras determinadas previamente em comum acordo, poderá ser muito importante.
Segundo López (2002, p. 75):
[...] a participação dos pais no sistema educacional, como toda participação social equivalente, tem a dupla perspectiva de colaboração e controle. Com a primeira se potencializam os recursos e as ações da escola, enquanto com o controle se estimula a melhora de qualidade da educação escolar.
Os pais na maioria das vezes, não são informados ou não procuram saber das propostas pedagógicas trabalhadas na escola em que seus filhos estudam, e dessa forma não conseguem resolver situações sobre questões pedagógicas atualizadas nas atividades para casa. Muitos pais são analfabetos e como vai ensinar as tarefas extraclasses para seus filhos? Não procuram os professores para questionar o porquê de resultados insatisfatórios.
De outro modo, o que as escolas tem feito para conseguir o apoio e a participação dos pais no processo de aprendizado? São de grande importância reuniões entre pais e escola para que possam ser debatidos assuntos que digam respeito à escola e a família. Uma equipe pedagógica preparada para atender aos pais tirando suas dúvidas e auxiliando em situações muitas vezes desconhecidas por eles. (CORSINO, 18/03/2006).
A equipe pedagógica tem um papel importante na interação entre pais, alunos e professores, facilitando o diálogo e a compreensão dos envolvidos e criando alternativas visando fortalecer as relações intrínsecas.
“A escola percebe na criança facilidades, dificuldades e outras facetas que em casa não eram observadas, muito menos avaliadas”. (TIBA, 2002, p. 182). Todas essas dificuldades são passíveis de soluções no momento em que pais e escola passam a se conhecer e decidir sobre o que é melhor para a educação de suas crianças.
Antes de sermos educadores, somos filhos, pais, humanos, e como tal, sentimos as mesmas dificuldades na árdua tarefa de educar. É de suma importância que neste momento de dificuldades de ordem econômica, social e educacional, pais e escola possam se unir para que através do conhecimento de causas, possamos encontrar soluções para um melhor desempenho escolar dos nossos filhos.
Os pais precisam trabalhar para que possam atender as necessidades básicas da sua família, entretanto, precisam encontrar tempo livre para dividir com seus filhos, na elucidação de tarefas escolares, no lazer, descobrindo e transformando a personalidade e o caráter dos mesmos. O acompanhamento periódico dos pais na escola é fundamental para as mudanças no processo pedagógico e na cobrança de uma educação de qualidade.
É sabido que as crianças são o futuro da nação e sem uma educação de qualidade que perspectiva terá em relação ao seu futuro? Que modelo de educação queremos dar para os nossos filhos se nem ao menos conhecemos as instalações físicas da escola que o mesmo estuda?
Com a participação dos pais no sistema educacional dos seus filhos e a criação de atividades nas escolas visando esclarecer as dificuldades e buscando soluções para as mesmas, é possível que haja uma melhora significativa na educação escolar.
Deseja-se com esse trabalho de pesquisa, levantar questões que interferem no relacionamento de pais e filhos, no que diz respeito à educação escolar, de maneira que possamos encontrar alternativas para um bom rendimento escolar. Descobrir as dificuldades que os pais têm enfrentado na transmissão de uma boa educação e de que forma as nossas crianças poderão ter um melhor rendimento escolar com a participação dos pais. Perceber quais os principais motivos do não comparecimento de muitos pais nas reuniões e debates no estabelecimento escolar. Investigar bibliograficamente na tentativa de buscar as melhores soluções para os mais diversos problemas enfrentados pelos pais na educação escolar dos seus filhos.
Entendemos que, para uma melhor interpretação das questões levantadas, faz-se necessário uma coletânea a autores, que tenham contribuído com suas investigações e que possa fomentar a análise de dados coletados, através da pesquisa de campo.